domingo, 1 de maio de 2011

De estilhaços

Talvez eu seja toda feita de cacos. Cada caco esparramado que eu faço questão de juntar. Tenho bolsos diferentes, para guardar cada um deles, cada qual com sua história, desde o momento mais doce até o mais tórrido e desnudo com o qual pude me deparar. Cacos de metades inteiras, mas que cortam com a mesma voracidade. Ah, teus inteiros! Me deixam confusa porque já não sou fã de novelas com final bonito de felizes-para-sempre. Também não gosto de mais ou menos, você sabe. Transito entre as extremidades dos momentos, e por isso meus cacos não tem se tornando paredes sólidas. São apenas cacos, e sou falha por isso? É assim que me diz. Talvez então se eu fosse outra. Talvez se eu não fosse apenas um pedacinho brilhante que corta, que fere, que deixa sangrar. E eu deixo porque meu orgulho não permite rendições.

Talvez se o meu caco fosse uma concha, linda e vazia perdida no mar. Talvez se essa soubesse amar. E eu não sei. Percebi que sou mais se, mais interrogativas, mais negativas, mais reticências, menos exclamações, nunca afirmativamente certa. Sou mais errada, mais bêbada, mais trêmula. Um vulcão a explodir na tua maresia.
Sou mais fogo, longe da brisa.
Sou o próprio fogo, talvez.
Que quebra o caco, que derrete o gelo. Mas nada sabe de amar, que nada sabe desse amor.