Talvez eu seja toda feita de cacos. Cada caco esparramado que eu faço questão de juntar. Tenho bolsos diferentes, para guardar cada um deles, cada qual com sua história, desde o momento mais doce até o mais tórrido e desnudo com o qual pude me deparar. Cacos de metades inteiras, mas que cortam com a mesma voracidade. Ah, teus inteiros! Me deixam confusa porque já não sou fã de novelas com final bonito de felizes-para-sempre. Também não gosto de mais ou menos, você sabe. Transito entre as extremidades dos momentos, e por isso meus cacos não tem se tornando paredes sólidas. São apenas cacos, e sou falha por isso? É assim que me diz. Talvez então se eu fosse outra. Talvez se eu não fosse apenas um pedacinho brilhante que corta, que fere, que deixa sangrar. E eu deixo porque meu orgulho não permite rendições.
Talvez se o meu caco fosse uma concha, linda e vazia perdida no mar. Talvez se essa soubesse amar. E eu não sei. Percebi que sou mais se, mais interrogativas, mais negativas, mais reticências, menos exclamações, nunca afirmativamente certa. Sou mais errada, mais bêbada, mais trêmula. Um vulcão a explodir na tua maresia.
Sou mais fogo, longe da brisa.
Sou o próprio fogo, talvez.
Que quebra o caco, que derrete o gelo. Mas nada sabe de amar, que nada sabe desse amor.